A escritora Elizabeth Laban marca sua estreia na literatura YA com uma obra intrigante para os leitores jovens. Antenados com tudo o que há de novidade nesse universo literário, com certeza já leram de tudo, mas “Da ordem ao caos” tem algo que vai conquistar os leitores mais exigentes.
Trata-se de um enredo de drama e suspense a partir das narrativas gravadas em CDs pelo ex-aluno albino da escola Irving, Tim. O garoto se envolveu em um episódio obscuro para o qual havia muitas perguntas e poucas respostas. Mas como surgiu essa história e qual seu processo de criação?
Descubra nesta entrevista em que Laban revela os bastidores de seu trabalho para a trama de “Da ordem ao caos”, lançamento da FAROL.
Da ordem ao caos é seu primeiro romance juvenil. Como foi que teve a ideia de escrevê-lo?
Eu queria escrever um livro desde a quarta série do ensino fundamental. Meu amigo Marshall Cooper vinha à minha casa e tentávamos criar histórias para uma personagem que chamávamos de Chopped Suey. Na minha imaginação, ele era um detetive juvenil, descolado e urbano. Nunca passamos do projeto da capa! Mas, desde aquela época, eu sempre criava histórias na minha cabeça. A ideia de Da ordem ao caos surgiu em várias etapas. Eu gostava da ideia de escrever a respeito de um triângulo amoroso clássico. Também fiquei impressionada com a ideia de usar um trabalho acadêmico complicado para ajudar a desenvolver a história. No meu terceiro ano do ensino médio, tive de fazer um trabalho de longo prazo que chamávamos de ensaio sobre a tragédia, apenas ligeiramente diferente do que fazem os alunos do Irving. Minha tarefa era definir uma tragédia e decidir se algo assim poderia existir na literatura contemporânea. Faz alguns anos, achei meu ensaio. Relendo-o tanto tempo depois, fiquei com vontade de escrever minha própria tragédia. As palavras que se entranharam na mente de Duncan nunca saíram da minha. Caráter elevado, reviravolta do destino, húbris: sempre adorei essas palavras. E aí, de repente, Duncan estava cruzando o arco...
Você sempre imaginou Tim albino ou isso foi algo que só surgiu mais tarde, enquanto escrevia?
Decidi logo de cara que Tim seria albino e, tomada essa decisão, tornou-se uma ideia fixa. Eu sabia que Tim tinha de ser um pária, e não só pelo fato de ser novo no Irving. Eu queria que ele tivesse de lidar com um problema que o afligisse o tempo todo, mas não podia ser algo que dificultasse demais sua vida cotidiana. Com a pesquisa que fiz, para saber com que tipo de coisa os albinos têm que lidar, foi ficando claro que fazer de Tim um albino me daria meios para amplificar as inseguranças da maioria dos adolescentes, além de me oferecer várias possibilidades para as decisões que ele toma no livro.
A escola particular, como cenário, tem um papel importante no livro. O que a inspirou a ambientar o livro no Colégio Irving?
Nos meus dois últimos anos do ensino médio, meus pais me mandaram para uma escola particular incrível chamada Hackley, em Tarrytown, Nova York. Vai soar bem piegas, mas acho que meus dois anos lá mudaram minha vida. Não foram perfeitos: tive de enfrentar alguns adolescentes malvados e me senti muito sozinha quando cheguei. Mas, no geral, foi a primeira vez que me senti realmente parte integrante de um lugar e da cultura desse lugar. Também foi a primeira vez que entendi a ideia de curtir o aprendizado. Recebi recentemente uma correspondência de Hackley em que havia uma citação de um ex-aluno dizendo que queria poder voltar a estudar lá. Se fosse possível, ele prometia ler tudo que lhe mandassem ler e prestar mais atenção às aulas. Será que não dava para voltar no tempo? Percebi, depois de ler suas palavras, que escrever este livro e criar o mundo do Colégio Irving era fazer justamente isso, no meu caso. Era voltar àquele lugar maravilhoso e passar algum tempo lá.
Você lecionou durante algum tempo numa faculdade. Alguma semelhança entre você e o sr. Simon?Nenhuma! Eu adorava lecionar, exatamente como o sr. Simon. Mas muitos dos meus alunos eram adultos, portanto a dinâmica era muito diferente daquela que estabeleci entre o sr. Simon e os alunos do Colégio Irving. O sr. Simon, que em muitos aspectos foi inspirado no meu professor de literatura do terceiro ano, o sr. Arthur Naething (ele realmente nos dispensava todos os dias com um “vão, agora, e espalhem luz e beleza”), equilibra muito bem a necessidade de ser acessível à garotada e também aterrorizá-la. Nunca tive a coragem de assustar meus alunos. Eu ficava feliz porque eles compareciam às aulas e pareciam interessados no que eu dizia.