Título: Presos que Menstruam
Autora: Nana Queiroz
Editora: Record
Páginas: 294
Ano: 2015
Gênero: Jornalismo/Literatura Nacional
Sinopse: Carandiru feminino. A brutal vida das mulheres tratadas como homens nas prisões brasileiras.
Grande reportagem sobre o cotidiano das prisões femininas no Brasil, um tabu neste país, Nana Queiroz alcança o que é esperado do futuro do jornalismo: ao ouvir e dar voz às presas (e às famílias delas), desde os episódios que as levaram à cadeia até o cotidiano no cárcere, a autora costura e ilumina o mais completo e ambicioso panorama da vida de uma presidiária brasileira. Um livro obrigatório à compreensão de que não se pode falar da miséria do sistema carcerário brasileiro sem incorporar e discutir sua porção invisível.
Presos que menstruam, trabalho que inaugura mais um campo de investigação não idealizado sobre a feminilidade, é reportagem que cumpre o que promete desde a pancada do título: os nós da sociedade brasileira não deixarão de existir por simples ocultação – senão apenas com enfrentamento.
Já fazia um bom tempo que queria ler esse livro, já que assuntos como esse sempre chamam a minha atenção, quando comecei a leitura senti que estava entrando em mundo completamente diferente do que eu imaginava.
Nana Queiroz faz o leitor conhecer como é o dia a dia de mulheres que estão na cadeia, quais foram os seus crimes, qual a sua pena e como são tratadas enquanto estão ali. Em muitos momentos a leitura fez com que eu respirasse fundo, desse uma pausa antes de continuar e isso não acontecia por causa da escrita da autora, pelo contrario sua escrita é leve, fluida, faz a gente quer ler cada vez mais, deixa o leitor curioso, o que é pesado é o tema tratado e principalmente o que mais me chocou é como essas mulheres eram tratadas.
Sei que muitas pessoas devem ter a seguinte opinião: ah elas cometeram um crime tem mais é que apodrecer na cadeia, não devemos ver elas como vítimas, coitadinhas. Eu confesso que a minha opinião é bem diferente dessa citada, pois conforme vamos lendo e conhecendo as personagens centrais dessa história vamos percebendo que muitas vezes os crimes cometidos são efeito de um mundo no qual elas vivem. Em muitos momentos tentei me colocar no lugar delas para perceber o porquê de elas terem tomado àquelas atitudes.
Muitas acabam indo presas porque assumem o trabalho do marido, ou seja, a venda de drogas, o marido é preso e elas precisam de dinheiro e acabam entrando para a vida do trafico. Se coloca no lugar de uma mulher que é agredida praticamente todos os dias, será que você aguentaria isso para o resto da vida ou tentaria desesperadamente dar um fim?
Quando um homem é preso, comumente sua família continua em casa, aguardando seu regresso. Quando uma mulher é presa, a história corriqueira é: ela perde o marido e a casa, os filhos são distribuídos entre familiares e abrigos. Enquanto o homem volta para um mundo que já o espera, ela sai e tem que reconstruir seu mundo.
O tratamento que elas recebem na prisão não é nada digno para se reabilitar uma pessoa, são humilhadas, maltratadas, independente de qual crime tenha cometido, seus direitos mínimos são ignorados.
Eu não estou dizendo que elas são vítimas e tal, só acredito que um tratamento adequado traria resultados mais positivos, elas devem sim pagar por seus crimes, mas de forma digna e que isso ajude elas a voltar para a sociedade de forma reabilitada, muitas dessas mulheres nunca mais terão a chance de um futuro diferente do que era sua vida antes, muitas saem da prisão e voltam para a vida anterior.
Esse é um livro que todos deveriam ler, para ter uma visão real do que acontece nas prisões femininas, uma leitura marcante, chocante e que eu recomendo.
A mãe e o padrasto não reconheciam o esforço como mérito, mas como uma responsabilidade natural dos seres humanos. Essa história de gastar a vida na escola era uma frescura à qual nenhum deles podia se dar ao luxo. Safira internalizou aquela visão de mundo, largou a escola aos 14 anos e se convenceu de que as pessoas batalhadoras, com esforço suficiente, sempre chegariam aonde quisessem. Com ela não seria diferente.
A realidade violentou suas expectativas e sua inocência. Safira acabou procurando exatamente o tipo de homem que reproduzia o lar no qual ela tinha crescido. Na primeira vez em que ele a acertou com tapa na cara, três meses após a mudança, Safira era ainda uma menina.
De repente, como nessas iluminações de santos, se deu conta de que estava reproduzindo os passos da mãe. A rotina violenta e desrespeitosa a que sujeitava seu menino não era melhor do que a mãe lhe havia dado com o padrasto. “Eu vou embora, não quero que meu filho seja criado da mesma forma que eu”, disse para si mesma.
Com Pedro no colo, 18 anos recém-completados, sem emprego, Safira entrou em colapso emocional. Foi acolhida por uma amiga, depois outra, de casa em casa, emprego em emprego. O salário era pouco, o favor dos amigos estava sempre para acabar.
Safira passou a levantar todos os dias às 5 horas da manhã para empacotar as sacolas de compras da classe média. Embrulhava todos os dias coisas que tinha desejo de comer, biscoitos que adoraria levar para o filho. Tentava não pensar muito na água na boca ou no aperto no estômago e lembrar que os batalhadores sempre alcançavam alguma coisa — nem que fosse um pacote de bolachas recheadas.
Quinze dias depois dessa rotina, ela chegou em casa cansada e, com fome, e foi abrir os armários para cozinhar algo. Estavam vazios. As fraldas haviam acabado, o leite também. Ela ia buscar seu bebê em minutos na casa da irmã. Imaginou o choro de fome dele. Ficou nervosa, começou a tremer. Precisava de um copo de água com açúcar.